segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Reflexões sobre um abraço....

Começo dizendo que não sabia qual o melhor título para essa breve reflexão. Após 24 horas de plantão num PS, um pouco cansada e com a cabeça cheia de coisas para escolher e decidir para os próximos dias, lembrei-me de uma criança que atendi ontem. E depois dela, veio uma sequências de outras lembranças sobre crianças e abraços... Aí pensei se melhor seria um título como "A sinceridade das crianças" ou "Crianças e sua espontaneidade". Relatarei minhas reflexões sobre tudo isso e escolham o melhor título para cada um de vocês...
O poder de um abraço, ontem foi um plantão mais cheio que de costume para um domingo, e com muitos casos de maior complexidade, pacientes tumultuando, divergências entre alguns membros da equipe. Mesmo assim mantive a calma. Mas como todo ser humano, fiquei um pouco cansada. Eis que num determinado momento, chamo o próximo paciente e entra um menino de 5 anos, todo sorridente, e logo percebi que ele tinha algo diferente em seu comportamento. Não parava de se mexer, e sorrir, e não falava direito. A mãe não precisou me dizer nada, só olhando em seus olhos já entendi que era uma criança "especial". Fui perguntando para ele o que tinha acontecido, ele gesticulou, olhei bem nos seus olhos, ele sorriu, examinei seu dedo, tinha dor, mas não deixou de sorrir um minuto e me olhava bem nos olhos. Uma conexão ali se estabeleceu. Falei para ele que ia tirar uma "foto" do dedo e que depois o veria novamente, e ele sorridente foi fazer o RX. Na volta vi que tinha uma pequena alteração decorrente de trauma em ossos de crianças, expliquei para a mãe e para ele, e ele, sempre rindo, gesticulou como que perguntando se seria imobilizado. Eu disse que sim. Ele olhava para a mãe, ria, parecia satisfeito com o atendimento, eu achei engraçado... Ele veio chegando perto, e a mãe sem jeito falava "calma filho", mas não me incomodei, pelo contrário, aguardei para ver o que ele ia fazer. Crianças sempre surpreendem... Virei para ele e ele me deu um beijo no rosto e um forte abraço! E olhou para a mãe todo feliz, imprimi a receita, entreguei para ele e ele novamente veio em minha direção e deu outro abraço e um beijo no rosto, saindo do consultório todo feliz e a mãe também. Depois disso parece que o plantão, mesmo cheio, ficou calmo. Nada mais poderia tirar minha calma. Que figura. Ganhei meu dia. Lembro então que este ano no dia do abraço, não que eu tivesse me dado conta que era o dia do abraço na ocasião, num domingo de plantão no mesmo PS, outra criança , outro trauma, criança dessa vez muito quieta, uns 4 anos, com o pai, este também sem jeito e tímido. Quando disse ao pequeno menino que tudo estava bem, ele foi se aproximando, aproximando.... O pai querendo tirar ele de perto de mim sem saber como, e a criança se aproximando ... e me deu um abraço! Na hora fiquei sem jeito, mas sorri, agradeci, e quando liberei os dois do consultório me dei conta de que aquele domingo era o dia do abraço! Mais uma para finalizar a reflexão sobre o abraço... No final da minha última viagem para as montanhas, o Kilimanjaro, o grupo foi visitar um orfanato. Levamos doações para as crianças, um dos propósitos dessa expedição. Quando chegamos na porta do orfanato, e a porta da van onde o grupo estava se abriu, eu sentada na porta, um pequena menina, tinha lá seus 4 anos ou 5 anos, correu e pulou para dentro da van, e num abraço agarrou-se a mim e ficou por muito tempo no meu colo, sorrindo e feliz com a visita dos montanhistas recém chegados do cume do Kilimanjaro.
Bom... O poder de um abraço... A sinceridade das crianças. Ninguém pediu para fazerem o que fizeram. Simplesmente elas tiveram vontade e fizeram! E eu recebi o poder  e energia restauradores e de cura de seus abraços!  Não pude deixar de lembrar de abraços que recebi e distribuí por aí, na família, nos amigos, nos cumes das montanhas, nas aulas de dança e teatro, nas chegadas ou partidas... Por um mundo onde as pessoas sejam mais como as crianças. Sinceras, espontâneas e não tenham vergonha ou medo de demonstrarem seus sentimentos ao próximo.





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