quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O trem para a Cracóvia.

Fim de mais um dia de plantão num dos PSs que trabalho, uma segunda feira cheia, mas sempre com alguma lição para aprender além da prática da medicina. Dou me conta ao final do dia de como o planeta é pequeno. E como nosso Brasil é rico de gente de todas as partes. Em tempos onde o "Espírito Olímpico" paira pelos ares de todo o planeta e país, hoje atendi duas pessoas que me chamaram a atenção. A primeira um jovem, com a esposa. Não pude deixar de perguntar de onde eram com aquele sotaque espanhol que tanto gosto de ouvir. A vontade era falar com eles no seu idioma natal, mas como falavam bem o português acabei usando esse mesmo! Mas acabei perguntando de onde eram, com aquele sotaque, e eles me contaram que são peruanos e estão há 5 anos no Brasil, ele eletricista, torceu o joelho jogando futebol, e estava preocupado pois precisava retornar logo ao trabalho. Lembrei de minha viagem para fazer o Caminho Inca no Peru, lembrei-me dos amigos que fiz durante a viagem, e a riqueza da cultura daquela terra Inca. A sorte de ter como guia, um professor de História, que nos contou, num desabafo, que já não dava mais aulas pois os alunos não queriam saber de nada, e optou por contar suas histórias e as muitas de seus antepassados e da sua Terra para os turistas dos mais variados lugares do planeta que se aventuram pelas terras Incas. Foi minha primeira experiência em altitude... O caminho Inca! Voltando ao plantão... Algumas horas depois, não tem como mas para exercer a arte da Medicina, reparar e observar os diferentes sotaques e perfis das pessoas faz parte de um bom atendimento. Somo a isso a minha cuirosidade e vontade de conhecer novas culturas e pessoas, acabo sempre perguntando quando percebo algo diferente em algum paciente. Chamo a próxima da lista, uma senhora de 83 anos. Entra na sala alguém muito forte, falante, lúcida, com aquele português de Portugal, como o da Dona Maria da Padaria Flor de Mogi, amiga da minha avó. Acabei perguntando se a paciente era portuguesa. Ela com todo orgulho me respondeu "Sim e ainda parente de Cabral! ". Me contou toda a história do que a levou ao Pronto Socorro naquela tarde, uma queda uns dias antes, mas que só foi ao PS por muita insistência dos seus filhos de coração. Filhos de coração pois a Portuguesa disse com todas as letras que nunca quis ter filhos, não era essa a vontade dela, que cuidou de muita gente aqui, conseguiu sua própria casa,  faz tudo sozinha, já havia voltado para Portugal para rever familiares e se despedir de alguns irmãos, mas voltou, e que ela a mais velha, ainda continua viva. Mulher de traços fortes, bem resolvida, e eu fiquei imaginando se tinha entendido que era parente de Cabral mesmo. Acabei perguntando qual era o grau de parentesco, ainda fico confusa com a resposta, mas o que ficou ( parece que ficou ) claro é que por parte da mãe da Senhora, pelos meus cálculos, sua tataravó, era tia-avó do Cabral. Confuso? Mas as senhoras dessa cadeia hereditária viveram mais de 100 anos, então foi isso mesmo, fazendo uns cálculos,  o que eu entendi. Tudo isso para lembrar de como o mundo é pequeno! Fecho o post com um momento que veio à memória depois de conversar com esses dois pacientes. Estava eu na Polônia, no mochilão que fiz sozinha em Julho de 2011. Estava em Varsóvia, e ia pegar o trem para a Cracóvia, visitar locais da Segunda Guerra que tinha vontade de conhecer. Na Polônia, fora dos locais turísticos, poucas pessoas falam inglês, e fora os números que são os mesmos, as placas da cidade são todas no idioma local. O Polonês, o qual eu não sabia nada. Cheguei na estação bem antes do meu horário para não correr o risco de perder o trem. Fui ao guichê de passagens, e com um inglês precário a senhora que vendia passagens me explicou onde era a plataforma. Fui eu para lá aguardar meu trem. Era só olhar pelo horário. Dois trens, e a plataforma central. Sentei num banco e fiquei ali a esperar. Não estava preocupada, pois havia entendido que o trem saída da plataforma da esquerda, e era só olhar o horário no relógio. Aproximou-se então de mim, uma senhora grande, com sacolas, sentou-se ao meu lado no banco e começou a falar comigo... Falar muito!!!! Só um detalhe... Em Polonês.... Eu não entendia nada. Mas ela continuou a falar, e de repente começou a apontar o trem, gesticular, mostrar o relógio, e falar, gesticular. Eu somente sorria, e fazia um sim com a cabeça. Sem entender nada, percebi que a senhora parecia preocupada com o trem, ou comigo. Ela apontava o trem, e apontava para mim.  O trem dela chegou, ela foi embora falando polonês, e eu sorrindo, tentando de alguma forma passar para ela que estava tudo bem ali comigo, e que meu trem ainda não havia chegado. A senhora foi, logo depois meu trem chegou. Era o trem certo. Dividi a cabine com uma família que ia para a Cracóvia também. Cheguei bem ao meu destino. Bom... Como comecei, esse mundo é pequeno, estrangeiros que vem para perto de nós , nós que vamos ser estrangeiros em outras terras, eles aprendem nossa língua, nós aprendemos as deles, ou simplesmente estamos abertos para entender a linguagem universal, dos olhares e gestos. E assim percebo como o mundo é grandioso e pequeno! E como há muito o que aprender, conhecer e explorar.

 Centro Histórico de Varsóvia


 Estação Central de Varsóvia

 Estação Central de Varsóvia


 Chegando no destino esperado! Cracóvia


 Um capítulo triste na História da Humanidade


Centro Histórico da Cracóvia

Nenhum comentário:

Postar um comentário